Editorial
Miro Soares

Críticas
Miro Soares 1
Miro Soares 2
Daniel R. Coes
Dante José de Araújo 1
Dante José de Araújo 2
Djenane Soares Alves
Edileuza Penha de Souza 1
Edileuza Penha de Souza 2
Antônio Eugênio P. de Castro
Jaqueline do Nascimento
Juliana de Souza Silva 1
Juliana de Souza Silva 2
Marco Antonio Oliva
Maria Helena/Maria do Carmo
Rubiane Maia
Sonia Maria Cabral Quinamo

 


 


EMARANHADOS DE CÉZAR COLA

EMARANHADO
Galeria de Arte Espaço Universitário / UFES, Vitória-ES
Dezembro de 2002

Da confluência de idéias e sujeitos, se é que se pode dissociar corpo-mente, sujeito-objeto e matéria-energia, Emaranhado pulsa sutil como uma borboleta e impulsiona a rebeldia numa tribo multifacetada. Com linhas em ritmos irreverentes e movimentos que confrontam padrões e convenções, às vezes sufocantes, um emaranhado constitui-se num vibrante atrativo para aqueles que têm em comum uma atitude contra a monotonia da resignação à ordem como única possibilidade aceitável para a expressão ou a “felicidade”.

Das grandes massas humanas tornadas desenhos, imagens congeladas e transpostas para o papel, aos pequenos personagens do cotidiano riscados no espaço, num emaranhado, contando histórias, e também congelados chegamos, por fim, às várias tentativas de múltiplos, em meio a processos metamórficos, alternando possibilidades de plano e espaço, onde acaso e auto-organização inspiram, produzindo sensações em progressões intensas, perenes e em alguns momentos incontroláveis.

Nessas possibilidades, o vídeo de César Cola expressa fragmentos de redes de significados tecidas a partir de desenhos esculpidos, brincadeira de criança tornada expressão adulta, em um fundo preto num prato branco, estáticos, onde uma banana é descascada e amassada com um garfo, misturada com aveia e mel, sendo vista, comida e possuída, alternadamente, enquanto é tornado desenho pelo artista, em meio a sons urbanos, sobrepostos em diferentes espaçotempos. São desvelamentos sutis, indiciários, de padrões de ordem e caos, que extrapolam os sentidos, se apropriando de materiais invisíveis como a palavra, o gesto, a discussão, o silêncio, para compor seu trabalho.

A partir da idéia de que não se dissocia obra e artista, a expressão do autor é antropofágica, se consome e se reconstrói num movimento constante, mas também é canibal, ou ainda, expressões de processos autopoiéticos. São mortes e ressurreições. São tentativas de vida. A metamorfose no centro dos opostos estáticos, num turbilhão de formas e sentidos, comer a própria expressão é se metamorfosear, em si mesmo, de adulto à criança, a adulto, de matéria à energia, à matéria, de expressão à artista, à expressão, tudo ao mesmo tempo, agora, sínteses que surgem e se esgotam sempre, sempre efêmeras e em espirais.

Marco Antonio Oliva
paramarcoantonio@bol.com.br