Editorial
Miro Soares

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Sonia Maria Cabral Quinamo

 


 


EXPOSIÇÃO DAS MÃOS

DAS MÃOS
Galeria de Arte e Pesquisa / UFES, Vitória-ES
12 de setembro de 2002

Obra: Como?
Artista: Vera Colodetti

O trabalho de Vera registra, através de recortes, colagens, música e objetos, a real turbulência que é a vida cotidiana de um trabalhador na atual sociedade. Acredito que a instalação Como? tem a intuição de ilustrar o caminho percorrido por um artista, ou qualquer outro profissional, desde o momento quando inicia sua inserção no mercado de trabalho.

Alguns detalhes da instalação, como as figuras de bocas, seios, braço, mão e corpo, vem nos solicitar a lembrança, ou reflexão, do quanto necessitamos do nosso próprio corpo para trabalharmos. Também nos toca no ponto do quanto esquecemos de nós mesmos, da nossa ferramenta de trabalho (corpo), quando nos entregamos à autodestruição, ou seja, aos vícios, à acomodação, à negligência, à preguiça, ao ódio, à vingança...

Outro detalhe nos chama a atenção: as imagens de carne coladas sobre o manequim. Conciliando estas imagens com as cobras, aranhas e utensílios domésticos, temos a sensação de que Vera no chama na tentativa de acordarmos diante dos possíveis problemas interpessoais dos quais ela tenha passado e dos quais quer nos alertar. Seria uma tentativa de explicitar que nossa ferramenta de trabalho (nosso corpo) pode estar na mira de falsidades, invejas, mentiras, sentimentos que nos tornam cobras e aranhas, os quais, conotativamente, nos faz comer a carne dos nossos corpos. Muitas palavras são recortadas e espalhadas pela instalação, mas estão concentradas em uma balança. De um lado estão palavras do cotidiano e do outro lado moedas e cédulas de dinheiro. Acredito que nesta balança, ou em algum momento da vida, precisamos ter consciência do que é mais importante, do que pesa mais: o dinheiro ou os valores da vida (família, amigos, felicidade, paz, saúde). E ainda, temos que engavetar os erros e desencontros do passado para que possamos prosperar no futuro, isso está bem representado com a gaveta e recortes que a artista usou.

Todos os detalhes da instalação estão ligados por uma linha dourada e em vários pontos foram colocados retroses que culminam em uma máquina de costura. Este detalhe do trabalho da artista, talvez, quer dizer que a vida terrena não é construída somente com momentos bons e prazerosos, mas sim de experiências boas e ruins, das quais temos sempre que extrair aprendizados, e isto tudo nós vamos costurando ao longo do nosso caminho.

Acredito que a artista apropriou-se de seus objetos cotidianos, bem como de suas experiências de vida, e produziu esta instalação da qual posso afirmar que está ótima.

Ainda é válido registrar o uso de um aparelho micro-system do qual somente é ligado se o próprio espectador quiser ouvir música enquanto observa a obra, portanto, existe na instalação uma certa interatividade.

Jaqueline do Nascimento
jaquegobbi@hotmail.com