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Editorial
Miro Soares
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MOSAICO CONTEMPORÂNEO
MOSAICO CONTEMPORÂNEO
Galeria Homero Massena, Vitória-ES
02 a 27 de setembro de 2002
O VIII
Congresso Internacional de Mosaicos em Vitória1
trouxe para nossas galerias um mundo de possibilidades, cores, matérias
e muita beleza. Entre as exposições na Ilha do Mel,
a do poeta e artista Allah Jeveaux me cativou pela contemporaneidade,
diferenciação e uso de materiais, e, sobretudo pelo
encantamento que a exposição possibilitou.
Na exposição Mosaico Contemporâneo,
quatro grandes peças ocuparam as partes estratégicas
da Galeria Homero Massena, sendo três do artista – Luz,
Água e Ação; Fuxico Capixaba do Marrocos; Terra
Mosaico Imã – e um texto, Mosaico da Palavra do também
artista e professor Didico, composto em uma parede lateral, diante
da qual o observador necessita caminhar em vai-vem para compreender
o sentido total da poesia.
Luz, Água e Ação – base
de aço escovado serve de suporte para uma banheira de vidro
triangular cheia de água e lentes coloridas. Aplicando o
Princípio de Arquimedes, o peso no fundo e a leveza da superfície,
inaugura um mosaico onde a ação da água e da
luz molda, formata, traduz a simetria.
Fuxico Capixaba do Marrocos – Mais uma vez
Jeveaux faz uso das lentes acrílicas, escolhe a transparência.
Imprime em algumas peças uma estrela de oito pontas. Para
unir o artefato, escolheu arames coloridos, costurando talvez uma
inspiração marroquina, cujos mosaicos revelavam alentos
na arte da tapeçaria. Fuxico Capixaba do Marrocos nos remete
também à exposição que aconteceu no
ano de 2000, no Museu Arqueológico de Nápoles: dentre
as obras expostas, trazidas de escavações realizadas
a sudeste da cidade, destacava-se um mosaico datado aproximadamente
do ano 100 antes da Era Cristã, feito com argamassa e minúsculos
cubos coloridos, chamados "tesseras"2
, proveniente de uma mansão romana fora dos muros de Pompéia.
O mosaico retrata
três matronas conversando animadamente em torno de uma mesa
redonda e sentadas sobre banquetas almofadadas. Elas trajam roupas
da época e seguram taças de vinho, mas parecem estar
num interminável encontro para tomar café, como se
fossem três mulheres modernas, queixando-se dos filhos e maridos
– é isso o que as torna tão transcendentes3.
Tão transcendentes quanto a mistura de histórias universal
e cultura tupiniquim...
Terra Mosaica Imã – Lembra uma brincadeira
de possibilidades, dividido em duas metades de um círculo
de cobre emendados com tiras de imãs. Ali o artista parece
dividir o planeta em dois. De um lado compete o sonho e a tranqüilidade;
do outro a aspiração, a luta, e garra; a possibilidade
de dizer não aquilo que fere os nossos corações.
A colocação dos elementos em nenhum instante, aparece
como aleatório, objetos manuais e industrializados formam
uma construção de possibilidades, cuidadosamente escolhida
para compor a obra. É imaginável visualizar os espaços
e os objetos; nomes e utensílio sobrepostos no luminar.
O mundo só será possível com
a comunhão entre os seres e o meio ambiente. Jeveaux, aponta
possibilidades, cria um lado do astro para a bonança, onde
é possível brincar com brinquedos e brincadeiras.
Seu trabalho é entremeado de símbolos e simbologia,
o artista dialoga com a história da arte. Do lado oposto,
tudo pode parecer um planeta de desordem. Entretanto, Jeveaux assenta
as tradicionais pastilhas de vidrotil4;
dispõe na volta ao mundo as probabilidades; concentra na
cancha alegorias das grandes indústrias, trabalhadas em imãs
comerciais em que a bandeira dos Estados Unidos da América
é cercada por bichos peçonhentos e a sua posição
política declarada: “DIGA NÃO À ALCA”,
“FORA E.U.A.”; as frases, em pedaços de tiras
de imã, são decoradas com moedas de centavo de dólar,
o que exprime ainda mais a opressão dos poderosos, donos
do mundo. A despeito das amarguras que temos em conviver nesse lado,
Jeveaux, não recua, topa a luta, convida para o ataque, futuca
os observadores de seu trabalho, chama-os para cruzar fronteiras,
engrossar fileiras e compor enredo. O artista encara a arte como
uma necessidade da vida e compromisso com a humanidade. Desempenha
a arte do Mosaico como primeiras das manifestações
elevadas do ser humano.
É neste contexto de pesquisas, história
e arte que Jeveaux dispõe a vida e o seu trabalho, buscando
formas diferentes de criar, usa pedacinhos de cores, materiais e
texturas variadas. Renova o olhar da concepção.
Edileuza Penha de Souza
souzaedileuza@escelsa.com.br
Notas:
1
- VII Congresso Internacional de Mosaico Contemporâneo - de
01 a 05 de setembro de 2002- Vitória /ES Brasil. Realização
bienal da Associação Internacional do Mosaico Contemporâneo,
A.I.M.C com sede em Ravena – Itália. O VIII Congrsso
homenageou a mosaicista fundadora da A.IM.C. Freda Monjardim.
2
- As tesseras usadas nas obras são às vezes de apenas
um oitavo de polegada, segundo o estudo sobre mosaicos de D.J. Smith
no Handbook of Roman Art (Manual de Arte Romana), editado por Martin
Henig. Smith afirma que a criação de mosaicos "teria
sido extremamente demorada e precisaria de artesão extremamente
bem dotado e hábil".
3
- Folha de S. Paulo - terça-feira, 20 de março de
2001. Segredos ocultos nos mosaicos de Pompéia.
4
- Intensificadas a partir da descoberta do ferro permitindo os primeiros
cortes na pedra. O vidrotil simplificou e revolucionou a arte em
mosaico.
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