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Apresentação
Kleber
Frizzera
Pequena história do Tempo
de Crítica
William Golino
Crítica dos artistas
Attílio Colnago
Augusto Alvarenga
Bernadette Rubim
Eduardo Cozendey
Emílio Aceti
Irineu Ribeiro
José Cirillo
Joyce Brandão
Júlio Tigre
Lincoln G. Dias
Norton Dantas
Orlando Rosa Farya
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FALA AO PÉ DO
OUVIDO COM A MATÉRIA
Toda crítica fundamenta-se na leitura da obra
ou ela expressa também nosso testemunho do que é ausente
aos olhos, mas presente aos outros sentidos? Sendo assim, o que
vai revelar este repertório senão aquilo que nos assalta
também pela ausência e torna-se, na verdade, uma possibilidade
no presente, o real limite em que se encontra nossa possível
interpretação.
Tratar de outros sentidos além deste que
na retina constrói-se é por demais desvelador, tendo
em vista que o visível nos salta aos olhos numa redundante
relação de ver para não crer; neste sentido,
há ainda a presunção de tocarmos, ouvirmos
e cheirarmos com os olhos, mas o que se estabelece, na certa, são
as relações com imagens que na verdade pouco simulam
o que seria um contato tátil, olfativo e até mesmo
palatável de fato.
Uma audição procede de uma escuta
estabelecida com propriedade, mas, não nos tornamos surdos
quando em silêncio experimentamos sentir o cheiro de alguma
coisa: a coisa que cheira constrói na memória suposições
antes mesmo que possamos ver e tocar o objeto perfumado. Estas experiências
físicas tecem, na verdade, o percurso pelo qual vamos nos
colocar no presente com o espaço, até que refeitos
dos pés à cabeça, nos localizamos, podendo
então avaliarmos as profundezas de nosso mergulho, até
onde formos reconhecíveis.
É curioso notar como para as pessoas estas relações
com o entorno são irrelevantes, quando no confronto direto
com o visível são arremetidas a um segundo plano,
mesmo aí, não são memórias perdidas,
aquilo que numa possível desconcentração desfrutamos
dos cinco sentidos ao mesmo tempo construindo este espaço
ao invés de um. Na verdade um sexto sentido, que é
os cinco atuando de forma coletiva em todas as direções,
nos fazendo crer que somos este centro de onde tudo se irradia e
para onde tudo converge, nos fazendo perder a dimensão material
deste corpo para além da matéria, adotados por ela
e com ela expandindo mais e mais, tornando nova uma velha experiência.
A matéria é a idéia. Adotamos
isto como sendo a única possibilidade para discorrer sobre
a tridimensão, sendo assim, ao adotar esta matéria
e não o material, não construiremos com ela nada do
que ela já não é, apenas daremos a ela a escala
do humano, isto é, fazê-la ser o corpo necessário
pelo qual nosso corpo se representa, pela ação. Que
ela tenha a dimensão do nosso gesto e a extensão do
nosso passo, que seja o deslocamento de nossa presença, e
que seja principalmente nosso movimento nas três dimensões:
altura, profundidade e substância. O princípio ativo
pelo qual nos reconhecemos e nos identificamos.
Júlio Tigre
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